Impacto da pandemia no paradigma de trabalho
Lançámos um desafio no Linkedin para que os utilizadores partilhassem connosco em que medida sentem que a pandemia alterou o paradigma de trabalho, a médio e longo prazo, nas empresas onde trabalham. Como resultado, verificámos que, embora cerca de 13% refira não antecipar alterações, sendo expectável que se retome o estilo anteriormente adotado, 87% considera que algo vai alterar.
10% irão valorizar o regime presencial
10% dos respondentes indicam-nos que irão valorizar o regime presencial, o que nos deixa a noção de que efetivamente, em algumas empresas, poderá ter havido uma má experiência com a modalidade remota. Na verdade, não esqueçamos que há processos e tarefas que requerem uma elevada preparação e desenvolvimento de software para que possam ser feitas de modo digital, e haverá decerto trabalhadores e empresas cansados deste regime forçado de teletrabalho.
Teletrabalho em pandemia não é referência
De facto, quando falamos de teletrabalho associado a uma pandemia, não nos podemos esquecer que não falamos de teletrabalho na sua correta associação da palavra, pois envolve um impacto emocional muito elevado, associado à falta de liberdade e ao receio face à evolução de saúde do seu círculo relacional. Decerto todos nós encontramos colegas que viram a sua vida familiar ser impactada por este contexto de ausência de limites entre a vida pessoal e profissional.
Também não devemos esquecer que muitos foram os trabalhadores que se viram postos à prova, de um modo nada coerente com os modelos habituais de vida que temos em Portugal, e que tiveram de assumir a sua função profissional, de progenitor e de educador, tudo a tempo inteiro, o que originou um elevado nível de cansaço e uma redução impactante de produtividade… De facto, quem na sua análise deste teletrabalho gostaria de o retomar? E ainda que saibamos que o teletrabalho a adotar no futuro não terá estas condicionantes, poderemos ter dificuldade em abstrair-nos de toda a carga emocional associada…
21% irão adotar teletrabalho em pleno
Em oposição, temos 21% que nos diz que perspetivam que as suas empresas irão adotar o teletrabalho em pleno, pelo que terão encontrado decerto nesta pandemia o impulso que esperavam para avançar para esta modalidade de trabalho. Podemos arriscar perspetivar que sejam empresas digitalmente mais funcionais, onde a produtividade poderá ter aumentado, pois muito do tempo gasto em deslocações passou provavelmente a ser tempo efetivo de trabalho. De facto, o nível de satisfação de quem estava em filas de trânsito ou em transportes públicos lotados, e até passou a poder adotar uma indumentária mais descontraída, terá decerto aumentado e sabemos que isso também impacta positivamente a produtividade…
Não obstante, diríamos que será premente questionar, como funciona a comunicação e interação exclusivamente digital? Como se mantém o alinhamento cultural e o compromisso sempre à distância? Esta será uma preocupação e um esforço acrescido para estas empresas…
56% aposta no melhor dos dois mundos
Por fim, a maioria (56%) fala-nos na possibilidade de ser adotado um regime misto, com alguns dias de trabalho remoto e outros dias de trabalho presencial, o que nos mostra que é indiscutível que esta condição que nos foi imposta nos fez dar o salto, nos fez questionar os nossos modelos mais rígidos e nos fez pôr em perspetiva as mais valias de ambas as modalidades de trabalho.
De facto, uma grande qualidade do ser humano é a sua capacidade de aproveitar as mudanças e os desafios para melhorar e crescer, e as empresas onde tal faça sentido, poderão conciliar deste modo as vantagens existentes no teletrabalho (trabalhadores mais confortáveis, com maior flexibilidade, com maior capacidade de foco em tarefas de maior concentração…), com a grande necessidade do ser humano de contactar, conviver, receber feedback com proximidade física e sem barreiras, e sentir-se parte integrante de um espaço físico que traduz a cultura e os valores da empresa.
A verdade de hoje não é a verdade de amanhã
Contudo, consideramos que ainda teremos um caminho a percorrer de desafios e limitações, e talvez daqui a alguns meses possamos estar a descobrir novas conclusões e novas necessidades, tal como o fizemos há 1 ano atrás sem poder na altura prever que aqui estaríamos, nesta data, a perspetivar estas conclusões…. Mas uma certeza poderemos ter, é que olharemos para a realidade do mundo de trabalho de forma diferente, e cada empresa terá o desafio de reencontrar o seu modo ideal de funcionamento, único e irreplicável.