O que precisa de saber sobre a Blockchain
Certamente que já ouviu alguém falar nisto, ou já leu esta palavra várias vezes nos últimos tempos. Não será por isso de estranhar que lhe tenha vindo à cabeça, quase que de imediato, a palavra Bitcoin, por associação lógica à Blockchain.
Se pensou nisso, pensou bem, porque uma e outra estão ligadas, embora sejam, naturalmente, duas coisas distintas.
Aquilo que pretendemos com este artigo é mostrar-lhe que, efetivamente, “reduzir” a dimensão da Blockchain à associação natural – e perfeitamente compreensível – às criptomoedas é um erro de análise muito comum.
Quisemos, sobretudo, tentar tornar mais clara a sua perceção sobre alguns pontos que nos parecem essenciais para que possa terminar o artigo e sentir que agora sim, percebeu o que é a tecnologia Blockchain.
O que é afinal a Blockchain?
Primeiro, um pouco de contexto.
Ao que tudo indica, o aparecimento da primeira Blockchain pública está ligado ao aparecimento da Bitcoin, em finais de 2008, início de 2009.
Se bem se lembra, 2008 foi um ano que ficou marcado pelo início de uma crise económica mundial, com origem no mercado norte-americano e na bolha imobiliária de proporções inacreditáveis que conduziu à falência do histórico banco Lehman Brothers, a 15 de Setembro de 2008, provocando uma crise económica que atravessaria o atlântico e atingiria gravemente a Europa. Portugal que o diga.
Em 2010, a crise obrigou mesmo a resgates financeiros a países como a Grécia, Irlanda, Chipre e, claro, Portugal. Por cá, este período ficará para sempre conhecido como o período em que a ‘Troika’ se instalou no nosso país, com todas as consequências que isso trouxe e das quais os portugueses dificilmente se vão esquecer.
Assim, em finais de 2008, nasce então a Bitcoin, numa tentativa de aumentar a confiança nas transações financeiras, puxando as transações para o maior e mais democratizado mercado do planeta: a internet.
Todos sabemos que num ambiente digital os nossos dados podem ser alterados e copiados com muita ‘facilidade’. A Blockchain aparece e apresenta-se como uma tentativa clara de impedir que isso aconteça, na medida em que a base de dados está completamente descentralizada minimizando o risco de comprometimento da informação e funcionando como “distributed ledger”, ou em tradução linear, funcionar como um Livro Razão distribuído e público.
Imagine então a Blockchain como o seu smartphone e a Bitcoin como uma das muitas aplicações disponíveis no mesmo. O que significa, claro está, que a Bitcoin é somente uma das muitas aplicações possíveis para as Blockchains existentes.
Se traduzirmos à letra – e já vai perceber porque é que neste caso é útil fazer essa tradução – Blockchain é uma cadeia de blocos.
Imagine uma corrente de ferro, longa e comprida, que tem os seus anéis entrelaçados, cada um ligado ao anterior e ao seguinte. É disso que se trata.
O Bloco
Em termos práticos, estamos perante um sistema que cresce e se multiplica exponencialmente à medida que vão sendo adicionados novos blocos.
Cada bloco é constituído pela informação que contém, a “impressão digital” (hash) desse bloco e a “impressão digital” do bloco anterior. A informação que ele contém, depende do tipo de Blockchain que está a ser referida ou analisada.
Uma Blockchain de Bitcoins, por exemplo, armazena a informação relativa a transações financeiras: Pessoa A transferiu dinheiro para a pessoa B e qual o valor que foi transferido.
Por inerência, trata-se de um sistema que permite realizar transações de valor sem a necessidade de existência de um intermediário, como por exemplo, um banco.
Nodes
Temos, portanto, que a Blockchain é uma base de dados distribuída e partilhada entre milhares de computadores, validando verdades em conjunto por forma a verificar todas as transações ocorridas. Esses computadores são conhecidos como Nodes.
Cada um dos nodes, ou seja, cada um dos computadores ligados à Blockchain – tem uma cópia de todos os movimentos e registos efetuados na Blockchain em questão.
Proof-of-work
Podemos olhar para este mecanismo de validação como um dos sistemas de defesa de uma Blockchain. Acrescentar um bloco necessita do consenso e acordo de todos os Nodes da Blockchain.
Esta medida visa garantir a inexistência de tentativas de corromper os blocos e, consequentemente, a Blockchain a que eles estão associados.
Ou seja, se alguém quiser apagar um dos blocos, toda a rede vai perceber que está perante uma “cadeia de blocos” corrompida. É essa democratização que acrescenta valor ao sistema.
Portanto, e de forma muito simples para que não sinta que está a ler mais um texto com dezenas de terminologias complexas e de difícil compreensão, apresentamos uma definição simples e objetiva daquilo que verdadeiramente é a Blockchain.
A definição
Trata-se de uma base dados que não é detida por qualquer organismo ou entidade. que guarda blocos de informação encadeados entre si, e que usa, como medidas de segurança, quer a descentralização em múltiplos computadores em locais diversos, quer a necessidade de consenso entre eles.
DLT vs Blockchain
Importa também que não se confunda Blockchain com DLT (Distributed Ledger Technology).
DLT é, essencialmente, o termo usado para descrever tecnologias que armazenam, distribuem e facilitam o acesso a transações entre utilizadores desta tecnologia, que tanto podem ser públicas como privadas. Este tipo de tecnologia tem como principal objetivo assegurar que não existe nenhum tipo de autoridade a controlar e supervisionar estas mesmas transações.
Ou seja, a Blockchain é um tipo de DLT. Uma espécie de subcategoria.
Pense em automóveis e em viaturas. Um carro é um tipo de viatura dos muitos existentes no planeta.
Uma das diferenças, por exemplo, é que nem todas as DLT utiliizam o método proof-of-work e nem todas precisam de uma estrutura de informação organizada em blocos.
Por cá, o Banco de Portugal já vai falando sobre este tipo de tecnologia, como de resto se pode ler no Relatório de Sistemas de Pagamento de 2018:
“(…) Com o objetivo de promover a adoção de soluções de processamento mais eficientes, alguns operadores de infraestruturas têm desenvolvido provas de conceito suportadas em DLT. Estas provas de conceito têm demonstrado que as principais mais-valias da tecnologia DLT são a resiliência, a transparência e a rapidez de consenso inerentes, apesar de esta tecnologia continuar a ser menos eficiente no processamento de grandes volumes de operações do que as tecnologias tradicionais. Para já, não se prevê que a tecnologia DLT venha a ser adotada em sistemas de pagamento que requeiram o processamento de um número elevado de operações num reduzido período de tempo. “
Veremos como, num futuro que será certamente muito próximo, os bancos vão lidar com esta tipo de tecnologia que visa, entre outras coisas, acabar com os intermediários e com a relevância que estes ainda têm num qualquer processo transacional.
Em suma, todas as Blockchains são DLT’s, mas nem todos os DLT’s são Blockchains.
Conclusão
Uma Blockchain é desenhada para registar e guardar transações digitais e pretende trazer as tão ansiadas e aguardadas transparência, eficiência e segurança ao mundo dos negócios.
A Blockchain é apenas a ponta de um iceberg tremendo e que promete mudar – caso seja aceite o seu uso generalizado – para sempre a face das trocas e transações comerciais no planeta.